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O Pescador Editor*

Não gosto de pescar, porque só pesco aos sábados, aliás, todos os sábados, se eu gostasse de pescar, eu iria todos os dias.

Antonio Almeida

O que falar do meu pai, Antonio Almeida, aquele com quem eu me encontrava e conversava quase que diariamente. Chorei de saudades, junto com um sentimento de honra por mais um ano com este memorial. Refleti muito sobre sua vida e quantos substantivos o descrevem:

Meu pai, Antonio Almeida, e eu, Leandro Almeida, em 2016 na Assembléia Legislativa de Goiás no recebimento de homenagem. Na época eu era presidente da Federação das Indústrias de Goiás Jovem.

Lavrador, editor, autor, presidente, diretor, acadêmico, conselheiro, filho, pai, avô, tio, amigo… Acredito que uma centena deles, mas existe um, em especial, que buscava de alguma forma incluir esta atividade onde quer que estivesse: o título de pescador.

Ele separava a humanidade entre aqueles que eram pescadores e aqueles que eram infelizes, e uma de suas perguntas iniciais em qualquer conversa era:

— Você gosta de pescar? Você já foi ao Araguaia?

E se a resposta fosse negativa a um desses dois questionamentos, sua indignação era imediata e, com seu carisma, dava o seguinte diagnóstico e recomendação:

— Você perdeu metade da sua vida. Conheça o Araguaia e vá pescar.

Ele tinha uma estreita relação com os rios e com os peixes. Quando perguntado se gostava de pescar, de pronto, respondia:

— Não gosto de pescar, porque só pesco aos sábados, aliás, todos os sábados, se eu gostasse de pescar, eu iria todos os dias.

Quanto ao título de editor, sua dedicação aos livros era imensa, incalculável a energia e tempo que investiu no desenvolvimento, difusão e aperfeiçoamento das edições de autores goianos.

De lavrador da terra, passou a lavrar livros. Faltavam-lhe estudos, mas nunca faltou amor, dedicação e otimismo, e isso foi o combustível de que precisava para se tornar um imparável, o mecenas da literatura produzida nesse chão goiano. Propagou os autores goianos, não só aqui, mas no Brasil e no mundo todo.

É um grande desafio que enfrento, diariamente, na continuidade deste legado, junto com meus sócios e tios Waldecy e Ademar, inclusive quero destacar que o Ademar acabou de passar por um auto transplante da medula, e pela segunda vez se curou de um cancer, o mesmo que meu pai teve.

Ainda há reencontros com amigos do meu pai que me trazem fortes emoções, memórias, pois, outrora, quando os encontrava, meu pai sempre estava junto, e agora estou só. Não tenho outra opção senão a de continuar. Como eu poderia deixar para traz tudo o que ele construiu?

E, hoje, a comenda literária mais importante do nosso estado leva o nome do meu saudoso pai, Antonio Almeida. Por isso, nesta data dolorosa, pois fazem 3 anos de sua passagem, e aqui pego uma frase do autor argentino de Jorge Luiz Borges, “que o paraíso é uma espécie de livraria”, e que se tornou tão especial, não só para mim, mas também para os nossos familiares, e em especial minha mãe Uilma, minha esposa, Derbby, meus filhos Bernardo e Benjamim, minha irmã Dennia, cunhado Elismar e sobrinho Yago, além dos amigos diletos, parabenizo os novos comendadores que recebem esta comenda que vem demonstrar o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido:

  • Eguimar Felicio Chaveiro, pelo IHGG
  • Heloisa Helena de Campos Borges, pela AFLAG
  • Luiz Augusto Paranhos Sampaio, pela AGNL
  • Maria Helena Chein, pela UBE-GO
  • Martiniano José da Silva, pela AGL
  • Ricardo Junior Assis Fernandes Gonçalves, pelo ICEBE

Não há outro que tenha feito mais pelos livros em Goiás do que Antonio Almeida, e talvez um dos maiores do nosso país, mas acredito que os livros eram mera desculpa para financiar suas belas e produtivas pescarias e proporcionar grandes histórias de pescador. E ele tem muitos amigos aqui neste auditório, pescadores cúmplices, que não me deixam mentir sozinho.

Uilma (mãe), Antonio (pai), Benjamim (filho), Yago (sobrinho), Bernardo (filho) e Eu (Leandro).

Um salve a Antonio Almeida.

* Descurso proferido por Leandro Almeida no dia 21 de agosto de 2023, na solenidade de entrega da Comenda Literária Antonio Almeida, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás

Assista à transmissão da Comenda Literária Antonio Almeida

Meu discurso inicia em 31:50
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Comenda Literária Antonio Almeida 2021

Nesse instante, com grande orgulho, cumpro a missão de falar sobre o homem a quem admirei, convivi e foi um grande mestre  para a vida: meu querido, saudoso e amado pai, Antonio Almeida.

Tonho da Kelps, Antonio dos Livros, Toninho, o Mecenas da Cultura, Pescador… Como são muitas, como são tantas as lembranças e saudades…

Tenho certeza que muitos dos que aqui presentes, de alguma maneira, conviveram com ele, e certamente o conheciam por alguns desses nomes. Cabe até perguntar: qual nome vocês preferiam, ou gostavam, de chamá-lo?

Para a vida, trago comigo algumas de suas célebres frases. Frases que, em conversas ou citações ele utilizava com naturalidade e frequencia:

“O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade, o otimista vê oportunidade em cada dificuldade.”

“O tempo é você quem faz, desconfie de quem tem tempo sobrando, peça ajuda para os ocupados, pois se ele assumir um compromisso ele irá executar.”

“Se você não conhece o rio Araguaia, perdeu metade de sua vida.”

“Não gosto de pescar, pois só pesco aos sábados, alias, todos os sábados; se eu gostasse de pescar eu pescaria todos os dias.”

Aliás, alguma frase que ele dizia te marcou?

Além da frases, ficou marcado o versículo que lia todos os dias:

Do livro de Isaías, capítulo 41:10: Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.”

E foi na sua simplicidade, com garra e coragem que construiu uma marca, construiu uma história vitoriosa e deixou um imenso e inigualável legado na área à qual dedicou sua vida: o maravilhoso mundo da leitura, da literatura e dos livros, e hoje, ao analisarmos, encontramos números expressivos e sem igual no Brasil.

Antonio Almeida! Tonho da Kelps. Meu pai. Um homem incontestavelmente à frente do seu tempo. Um visionário, que construiu um modelo de negócios que hoje é exemplo a ser seguido por muitas editoras que surgiram nos últimos anos.

Desde o início tornou a Kelps a casa do escritor goiano, uma editora de autores independentes, democrática e sem barreiras, onde nunca houve distinção ou discriminação para quem quisesse realizar o sonho de contar sua vida, sua história, deixar seu legado como escritor.

A Kelps é uma editora que não atua de maneira tradicional, e é importante dizer que nos últimos anos, o que alavancou e segurou o mercado dos livros no Brasil foram as editoras independentes que estão lado a lado com os autores autopublicados

Mantendo o caráter arrojado, inovador, é uma das raras, uma das poucas editoras do País que possui parque gráfico próprio.

Antonio Almeida, militante incansável da arte e da cultura, com capacidade e maestria coordenou projetos culturais e sociais, dentre os quais posso citar:

  • Espaço Goiás nas Bienais do Livro
  • Caravana de Escritores nas Bienais do Livro
  • Concurso Kelps de Poesia Falada
  • Edições Consorciadas
  • Feiras de Livros
  • Autor Goiano nas Escolas
  • Bilioteca Itinerante
  • Coleção Prosa e Verso
  • e diversos outros

Pela natureza de seu profícuo trabalho, esteve presente como membro das diversas  entidades ligadas ao livro e a cultura do nosso estado e do país.

Além da atuação constante na literatura, era um líder nato. Foi presidente do Sindicato da Indústrias Gráficas de Goiás por mais de vinte e cinco anos, e reconhecido, foi vice-presidente da FIEG – Federação das Indústrias do Estado de Goiás, por quatro mandatos, além de integrar conselhos e diretorias de várias outras entidades.

Mas, o que mais marcava sua vida e sua trajetória, era a sua dignidade, a sua honra, a sua forma de lidar com as dificuldades.

Tive o privilégio de sua convivência diária e posso atestar: era uma pessoa extremamente positiva, direta e franca. E apesar de todos os seus compromissos, sempre foi um excelente esposo, um grande e amigo pai, um avô muito presente.

O bem mais caro que dizia ter, aquilo que mais importava a ele, seu grande tesouro, era a família, sempre em primeiro lugar.

Mas em segundo lugar, dividia o Rio Araguaia – e os livros.

E aos merecedores desta tão honrosa Comenda literária Antonio Almeida

  • Arthur Edmund de Souza Rios
  • Delermando Vieira Sobrinho
  • Hélio Moreira
  • Lena Castelo Branco Ferreira de Freitas
  • Marislei de Souza Espíndula Brasileiro
  • Nancy Ribeiro de Araújo e Silva
  • Nars Nagib Fayad Chaul
  • Nelci Silvério de Oliveira

Recebam todos o nosso aplauso e o fraterno abraço da família Almeida.

Muito obrigado a todos!

Discurso de Leandro Almeida, durante Sessão Solene, da Câmara Municipal de Goiânia, na ocasião da entrega da Comenda Literária Antonio Almeida, aos destaques da literatura goiana, no dia 09/12/2021 na Academia Goiana de Letras.