Não gosto de pescar, porque só pesco aos sábados, aliás, todos os sábados, se eu gostasse de pescar, eu iria todos os dias.
Antonio Almeida
O que falar do meu pai, Antonio Almeida, aquele com quem eu me encontrava e conversava quase que diariamente. Chorei de saudades, junto com um sentimento de honra por mais um ano com este memorial. Refleti muito sobre sua vida e quantos substantivos o descrevem:

Lavrador, editor, autor, presidente, diretor, acadêmico, conselheiro, filho, pai, avô, tio, amigo… Acredito que uma centena deles, mas existe um, em especial, que buscava de alguma forma incluir esta atividade onde quer que estivesse: o título de pescador.
Ele separava a humanidade entre aqueles que eram pescadores e aqueles que eram infelizes, e uma de suas perguntas iniciais em qualquer conversa era:
— Você gosta de pescar? Você já foi ao Araguaia?
E se a resposta fosse negativa a um desses dois questionamentos, sua indignação era imediata e, com seu carisma, dava o seguinte diagnóstico e recomendação:
— Você perdeu metade da sua vida. Conheça o Araguaia e vá pescar.
Ele tinha uma estreita relação com os rios e com os peixes. Quando perguntado se gostava de pescar, de pronto, respondia:
— Não gosto de pescar, porque só pesco aos sábados, aliás, todos os sábados, se eu gostasse de pescar, eu iria todos os dias.
Quanto ao título de editor, sua dedicação aos livros era imensa, incalculável a energia e tempo que investiu no desenvolvimento, difusão e aperfeiçoamento das edições de autores goianos.
De lavrador da terra, passou a lavrar livros. Faltavam-lhe estudos, mas nunca faltou amor, dedicação e otimismo, e isso foi o combustível de que precisava para se tornar um imparável, o mecenas da literatura produzida nesse chão goiano. Propagou os autores goianos, não só aqui, mas no Brasil e no mundo todo.
É um grande desafio que enfrento, diariamente, na continuidade deste legado, junto com meus sócios e tios Waldecy e Ademar, inclusive quero destacar que o Ademar acabou de passar por um auto transplante da medula, e pela segunda vez se curou de um cancer, o mesmo que meu pai teve.
Ainda há reencontros com amigos do meu pai que me trazem fortes emoções, memórias, pois, outrora, quando os encontrava, meu pai sempre estava junto, e agora estou só. Não tenho outra opção senão a de continuar. Como eu poderia deixar para traz tudo o que ele construiu?
E, hoje, a comenda literária mais importante do nosso estado leva o nome do meu saudoso pai, Antonio Almeida. Por isso, nesta data dolorosa, pois fazem 3 anos de sua passagem, e aqui pego uma frase do autor argentino de Jorge Luiz Borges, “que o paraíso é uma espécie de livraria”, e que se tornou tão especial, não só para mim, mas também para os nossos familiares, e em especial minha mãe Uilma, minha esposa, Derbby, meus filhos Bernardo e Benjamim, minha irmã Dennia, cunhado Elismar e sobrinho Yago, além dos amigos diletos, parabenizo os novos comendadores que recebem esta comenda que vem demonstrar o reconhecimento pelo trabalho desenvolvido:
- Eguimar Felicio Chaveiro, pelo IHGG
- Heloisa Helena de Campos Borges, pela AFLAG
- Luiz Augusto Paranhos Sampaio, pela AGNL
- Maria Helena Chein, pela UBE-GO
- Martiniano José da Silva, pela AGL
- Ricardo Junior Assis Fernandes Gonçalves, pelo ICEBE
Não há outro que tenha feito mais pelos livros em Goiás do que Antonio Almeida, e talvez um dos maiores do nosso país, mas acredito que os livros eram mera desculpa para financiar suas belas e produtivas pescarias e proporcionar grandes histórias de pescador. E ele tem muitos amigos aqui neste auditório, pescadores cúmplices, que não me deixam mentir sozinho.

Um salve a Antonio Almeida.
* Descurso proferido por Leandro Almeida no dia 21 de agosto de 2023, na solenidade de entrega da Comenda Literária Antonio Almeida, outorgado pela Câmara Municipal de Goiânia, no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás